Querida e amada Beatris.
No longínquo dia 03/07/1974, eu então com 22 anos e você com 19 anos, iniciamos nossa caminhada juntos ao celebrarmos a cerimônia de casamento na Igreja São Cristóvão no então bairro “Vila” Guaíra em Curitiba, cerimônia que foi realizada pelo Padre Vitório Bona.
Naquela oportunidade, prometemos um ao outro sermos fiéis, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza.
Nossos primeiros anos de casamento foram só de alegrias e felicidades, pois além do amor que nos unia, fomos premiados por Deus pela chegada dos nossos quatro filhos – Luciana, Reinaldo Filho, Luiz Fernando e Rafael.
Entretanto, minha promessa de fazê-la eternamente feliz foi quebrada em face da minha dependência alcoólica. Quantos problemas e dificuldades trouxe a você, a nossos filhos e familiares, que impotentes diante da situação, não sabiam o que fazer. Foram anos de sofrimento que lhe causei. Quantas noites de sono eu retirei de você, que praticamente sozinha cuidava de nossos filhos e tentava de todas as formas protegê-los da minha violência verbal, até mesmo para que não sofressem com a situação do pai, que nem mesmo conseguia sustentá-los.
Nesses anos tão difíceis, quantas pessoas nos ajudaram. Algumas levando até mesmo alimento para nossa casa; outras orando por nós, mas especialmente pela minha recuperação como homem, marido, pai e, especialmente, para que nossos filhos não seguissem o mau exemplo paterno.
É verdade que algumas pessoas até achavam que você deveria “largar os betes” – como se diz na gíria – e deveria me abandonar por considerarem que eu era um irresponsável, imprestável e vagabundo. Confesso que até mesmo eu, por várias vezes, pensei da mesma forma.
Apesar de todo o sofrimento que te fiz passar, você nunca quebrou tua promessa (na alegria e na tristeza, na saúde e na doença).
Tenho convicção que o Altíssimo ouviu as orações dessas pessoas tão queridas, pois no dia 27/08/1986, após muitas tentativas em vão de me manter sóbrio, e com a ajuda imprescindível de meus companheiros de Alcoólicos Anônimos, recebi a graça de reconhecer minha dependência alcoólica. Lembra-se quando cheguei em casa empolgado e olhando nos teus olhos te disse “HOJE EU NÃO BEBI” e não estava mentindo como fiz diversas vezes.
Não foram fáceis os primeiros meses de abstinência, pois só havia parado de beber, mas continuava com as mesmas atitudes e comportamentos como se bebendo estivesse. Mais uma vez você suportou minha arrogância e meus rompantes mantendo-se a meu lado com a esperança que isso também mudaria. E mudou.
Deus sempre colocou em nossas vidas “ANJOS EM FORMA DE PESSOAS”.
Aproximadamente nove meses após ter conseguido a abstinência alcoólica, um casal que pouco conhecíamos, e quase nenhum contato tínhamos, mas que com certeza foram nossos anjos, no mês de abril de 1987 nos convidaram para participar de um encontro de casais denominado CIVC – Curso Intensivo Vivencial do Casamento, que aconteceria no mês de agosto daquele mesmo ano, já que para o encontro do mês de junho eles já tinham outro casal já convidado. Lembra-se do que te disse logo depois que conversamos com eles?
Até hoje brincamos com a afirmativa que te fiz que somente participaríamos do encontro ‘A GOSTO DE DEUS” e que quando retornassem com o convite diríamos que tínhamos compromissos todos os finais de semana do mês de agosto.
Mais uma vez, Deus em sua infinita bondade, sabendo do que havíamos combinado, antecipou o convite e o casal ardilosamente perguntou o que faríamos no final de semana do mês de junho/1987, e pensando que iriam nos convidar para alguma festa, dissemos que não tínhamos nenhum compromisso, pois na nossa cabeça estava afixado o mês de agosto. Bastou para eles dizerem: “ENTÃO VOCÊS VÃO PARTICIPAR DO CIVC DE JUNHO”, e não tivemos outra alternativa senão aceitar.
Tentei por diversas vezes dissuadi-la da ideia de participarmos do encontro, entretanto você firmou o “pé”, e fui compelido a aceitar. Nunca esqueço do que combinamos na sexta-feira, um dia antes do encontro: já que iríamos “perder” o final de semana, ao menos que fôssemos desarmados e que aproveitássemos o melhor possível do que acontecesse no encontro.
Costumo afirmar que foi exatamente nesse final de semana do CIVC que tive o meu despertar espiritual – apesar do CIVC ser um curso ecumênico onde não trata de religião – pois ao final de domingo, ao retornar para casa, tive a certeza de que as mudanças deveriam começar por mim.
Em todos esses momentos você esteve sempre ao meu lado, e hoje, dia 03/07/2024, completamos 50 anos de união conjugal, com muitos momentos turbulentos, mas com a certeza que hoje somos muito mais de que simplesmente marido e mulher – somos parceiros, amigos, amantes e acima de tudo, apaixonados um pelo outro.
Obrigado meu amor por tudo o que você fez e ainda faz por mim e pela nossa família. Você sempre foi e continua sendo o meu suporte e dos nossos filhos, genro, nora, netas e netos.
Que Deus nos conceda quantos anos Ele achar justo que tenhamos que viver a partilhar nossas vidas.
TE AMO PARA A ETERNIDADE!
Do seu sempre Reinaldo